em cada folha branca um desafio, em cada pincel uma esperança, em cada boião de tinta milhares de sonhos diluidos...

domingo, fevereiro 08, 2009

Dois homens às compras

Fui às compras com o meu pai. Para evitar males maiores, a minha mãe teve o cuidado de fazer uma lista de compras - quando dois homens vão às compras sózinhos, isso é o minimo que uma mulher pode fazer. Para bem ser a lista deveria ter a marca de cada produto e a prateleira do supermercado onde está - só assim a pressão psicológica de chegar a casa com as compras certas desapareceria mas os telemóveis também existem para alguma coisa.
À partida o desafio parecia simples. A lista tinha coisas básicas e tinhamos ali uma boa hipótese de causar boa impressão. Começámos bem: o açúcar, o chouriço (era pequeno - trouxemos dois), o leite, os iogurtes. As dificuldades começaram nas maçãs. Quando chegámos à frutaria a pressão sentiu-se no ar. O meu pai virou-se para mim e desabafou: 
"A mãe disse-me que só penso em mim quando compro maçãs porque as que levo são muito maduras." 
Por dois segundos ficámos os dois calados. Ali estava a evidência de que não seria desta vez que causaríamos boa impressão. Respondi-lhe:
"Olha estas, parecem-me bem."
"Hum, estas parecem-me melhores. São mais variadas."
"Ó pai, essas têm mau aspecto. Olha estas."
"Quanto é que essas custam?"
"Não sei, nunca nada tem o preço no sítio."
"Oh, escolhe lá mas é."
"Ó pai, eu não quero ter essa responsabilidade..."
"Oh, vamos dar uma volta e já cá voltamos..."
Meu Deus, a pressão exercida por uma mulher pode ser tal que até um homem como o meu pai que trabalha na Direcção Regional de Agricultura há 20 anos fica sem saber escolher maçãs...
Mas o terror ainda não tinha acabado. Faltavam os feijões. A lista indicava precisamente que deveriam ser feijões vermelhos em lata. Nada mais, nada menos. Mas estava escrito que não iríamos fazer boa figura. O supermercado só tinha feijões vermelhos em frasco. De resto tinha feijões brancos em lata e feijões pretos em lata. Espantado pela hesitação do meu pai, perguntei:
"Não há em lata levamos em frasco, certo?"
Ele olhou para mim lentamente e disse:
"A mãe pôs aqui que é em lata..."
"Mas ó pai, qual é a palavra mais importante: é lata ou vermelho?"
"Não sei..."
Qualquer semelhança entre esta conversa e uma conversa de dois miudos de cinco anos é pura coincidência. É incrível a pouquíssima capacidade de tomar decisões que dois homens conseguem ter quando paira sobre eles a sombra de uma mulher.
Prevendo o impasse sugeri ao meu pai que ligasse à minha mãe. A resposta não tardou e não era nenhuma das que tínhamos pensado: deveríamos levar duas latas de feijão branco e dois frascos de feijão vermelho. As duas latas de feijão preto que o meu pai tinha posto no carro antes do telefonema voltaram para a prateleira num ápice.

Voltámos para casa meia hora depois. O meu pai com um ar meio triunfante meio amedrontado.

E eu a pensar: "Daqui a cinco meses estou casado."


 

domingo, janeiro 04, 2009

1 ano, ou melhor, 358 dias

Vou escrever daqui a bocado, não não, escrevo amanhã que hoje estou cansado e não vai sair nada de jeito. Caramba, amanhã combinei sair e também não vai dar. Ui, e com o cansaço dos dias de trabalho é que nem pensar, a multidão de pessoas que lê o blogue merece os melhores textos...

E cá estou, quase um ano depois. Para recomeçar, ou para continuar. E olhem que, para quem passou um ano a arranjar desculpas para aqui escrever, hoje nem precisava de me esforçar muito. O cheiro a vomitado que com grande resistência ainda não abandonou a sala, apesar das lavagens, não me deixa esquecer a noite passada. (desculpem a franqueza mas é mais forte que eu).

Mudei de terra, pedi a minha namorada em casamento (ah pois é, quem já é um homenzinho, quem é?). Fui aumentado. Tentei aproximar-me mais dos amigos que foram ficando pelo caminho. Fiz promessa de chefe dos escuteiros e decidi orientar um grupo de 12 pioneiros - miudos de 14 aos 17 anos (eu sei, eu sei...). Pus o meu Fiat UNO de lado. (caramba, dói cada vez que olho para as teias de aranha e aquele pneu em baixo) Foi o ano em que desenhei menos - mas em que ainda assim tive direito à exposição comemorativa dos dois anos de cartoons n"O Independente de Cantanhede" na biblioteca de Cantanhede. Fui padrinho de um miudo lindo que aprendeu a andar sem eu ter visto. Ah, e mudei uma fralda - já não mudava fraldas há uns catorze anos, certo, Tito? 

Em resumo: foi um ano bonito, com momentos muitos altos e outros que nem tanto. 

Do ano que está a começar só posso desejar a todos que seja o melhor possível. Que tenha tanto de alegria como de verdade, amor e amizade, trabalho e confiança. E umas chaticezitas para apimentar também fazem sempre falta.

Bom ano!

(E agora vou voltar a lavar o chão da sala, este cheiro está que não se pode.)

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Os 4 escolhidos

Quando se decide fundar (gosto da palavra "fundar", tem um ar solene) uma "empresa" de t-shirts e aparece o Natal, qual é a primeira coisa que se pensa? Pensa-se que é uma excelente altura para oferecer t-shirts ilustradas porque se há peça de roupa que o frio do Natal convida a usar, toda a gente sabe, é uma boa t-shirt (debaixo de três camisolas e dois casacos).
Por isso, deitei mãos à obra e tratei do assunto. Uma para o meu afilhado David, outra para a minha sobrinha Nês, para a mana Kaucheteta e outra para o meu cunhado Ricardo.
Imagino o orgulho que eles devem sentir neste momento. De entre toda a população mundial, eles foram os quatro escolhidos para receber t-shirts exclusivas.
Ao fim ao cabo, o Natal é fazer os outros felizes!

Agora a sério, se não for pedir muito, usem-nas....

























































segunda-feira, dezembro 24, 2007

Feliz Natal!

Mais um ano, mais um Natal. Por mais trabalho, chatices e aborrecimentos que se tenha não há nada que tire a beleza ao Natal! É a época mais bonita do ano. Tão bonita que nem a ausência de férias é capaz de acabar com ela. (e olhem que a ausência de férias dana com muita coisa)
Uma das tradições mais bonitas do Natal cá da terra, aparte das familiares, é a colaboração com o Banco Alimentar Contra a Fome. Outra é a organização de uma peça de Natal com a malta dos escuteiros. Este ano decidimos juntar as duas: uma peça de Natal onde o bilhete era um alimento.
No fim da peça, que encheu de orgulho os avozinhos e os paizinhos dos actores juntámos dois caixotes de alimentos. Nada mau!

Um Natal cheio de solidariedade para todos!

domingo, novembro 18, 2007

Assim nasce uma marca

"Já são três. Tenho vontade até de as fazer para vender e oferecer aos meus amigos. Mas, e se tivessem uma marca?" Foi mais ou menos que andei a magicar durante alguns dias quando o nome me assaltou: Yaics! É um nome alegre, divertido e, até certo ponto, estúpido (como eu...) e que tem tudo a ver com as t-shirts.
Mas é certo. Não está registada. Talvez por isso, "marca" seja um termo forte de mais.
De qualquer forma é assim que eu gosto de pensar.

A coisa tá a ficar séria

A primeira t-shirt é por gozo pessoal. A segunda é porque se quer oferecer qualquer coisa tendo em conta que a primeira nem saiu muito mal. Mas a terceira... Bem, a terceira já é especial. Afinal de contas é o que toda a gente diz: à terceira é de vez.

Desta vez o pretexto foi a minha irmã mais nova mas o que não me faltam são pretextos.




sexta-feira, outubro 05, 2007

Sabes onde é a loja dos 300 mais próxima?

Depois de ter desenhado uma t-shirt para mim, decidi abusar da sorte e fazer mais uma. Desta vez o objectivo era fazer uma para oferecer, o que eleva desde logo o stress e a sensação de que não vai correr nada bem. Quando fazemos uma coisa para nós próprios e ela não fica nada de jeito podemos sempre dizer: "Ai, isto era só uma experiência..." ou então se formos mais afoitos (mas também mais arriscados) podemos tentar: "Foleiro? Isto? Ó meu amigo, se não sabes reconhecer estilo quando o vês o problema é teu...". Agora, quando é para oferecer, ou bem que fica bem ou bem que mais vale esquecer as boas intenções e comprar qualquer coisa na loja dos trezentos mais próxima. Neste caso, eu tinha boas hipóteses de fazer qualquer coisa de jeito. A t-shirt era para oferecer à minha namorada (sei as coisas que ela gosta, digo eu...) e mesmo que ela não gostasse muito do resultado de certeza que não o ia deixar transparecer (me engana que eu gosto)...

O resultado final foi um timido "Tá gira...".

Ainda não é desta que vou ser contratado pela Throttleman's.





quarta-feira, setembro 19, 2007

Poxa, devo estar a ficar velho...

Este ano foi à grande. Dois em Junho. Um em Julho. Outro que há-de ser em Outubro e outro que já está marcado para o próximo ano. E não são daqueles em que a única ligação aos noivos (sim estou a falar de casamentos...) é uma tia-avó em comum, já quase surda e com óculos de 30 dioptrias que nos olha de alto a baixo, que nos pergunta em que ano da escola estamos e que orgulhosamente nos diz que já somos uns homenzinhos (claro, depois de ter perguntado vinte vezes quem são os nossos pais e confundido 30 vezes o nosso nome com o do nosso irmão mais velho)... Não, estou a falar de casamentos em que os noivos são meus amigos de infância, andaram comigo na escola, dei conselhos sobre os respectivos namorados(as) e a quem, inclusivamente, mas sem orgulho, servi de vela.
Esta overdose de casamentos, para além das dores no bolso direito, pôs-me a pensar na vida. As conversas há muito que deixaram de ser sobre a professora de biologia ou sobre a próxima ida de férias. Agora falamos sobre trabalho, dinheiro, empréstimos bancários, acções da bolsa, casamentos. Daqui a algum tempo estaremos a falar sobre filhos. Valha-me Deus, o relógio não pára mesmo.

E ainda por cima um dos noivos pediu-me para fazer as caricaturas deles (dele e da noiva) para os convites.



Pois, eu... trabalho nas obras

Um dia destes deu-me a vontade, há muito adiada, de fazer um desenho para uma t-shirt. E das duas uma: ou gastava o pouco tempo que consegui arranjar a pensar no desenho que queria ou desenhava a primeira coisa que me viesse à cabeça.
Ganhou a segunda hipótese. O desenho, bem, o desenho não foi da primeira coisa que me veio à cabeça. Foi da coisa que, na maior parte do tempo, não me sai da cabeça...