Dois homens às compras
Fui às compras com o meu pai. Para evitar males maiores, a minha mãe teve o cuidado de fazer uma lista de compras - quando dois homens vão às compras sózinhos, isso é o minimo que uma mulher pode fazer. Para bem ser a lista deveria ter a marca de cada produto e a prateleira do supermercado onde está - só assim a pressão psicológica de chegar a casa com as compras certas desapareceria mas os telemóveis também existem para alguma coisa.
À partida o desafio parecia simples. A lista tinha coisas básicas e tinhamos ali uma boa hipótese de causar boa impressão. Começámos bem: o açúcar, o chouriço (era pequeno - trouxemos dois), o leite, os iogurtes. As dificuldades começaram nas maçãs. Quando chegámos à frutaria a pressão sentiu-se no ar. O meu pai virou-se para mim e desabafou:
"A mãe disse-me que só penso em mim quando compro maçãs porque as que levo são muito maduras."
Por dois segundos ficámos os dois calados. Ali estava a evidência de que não seria desta vez que causaríamos boa impressão. Respondi-lhe:
"Olha estas, parecem-me bem."
"Hum, estas parecem-me melhores. São mais variadas."
"Ó pai, essas têm mau aspecto. Olha estas."
"Quanto é que essas custam?"
"Não sei, nunca nada tem o preço no sítio."
"Oh, escolhe lá mas é."
"Ó pai, eu não quero ter essa responsabilidade..."
"Oh, vamos dar uma volta e já cá voltamos..."
Meu Deus, a pressão exercida por uma mulher pode ser tal que até um homem como o meu pai que trabalha na Direcção Regional de Agricultura há 20 anos fica sem saber escolher maçãs...
Mas o terror ainda não tinha acabado. Faltavam os feijões. A lista indicava precisamente que deveriam ser feijões vermelhos em lata. Nada mais, nada menos. Mas estava escrito que não iríamos fazer boa figura. O supermercado só tinha feijões vermelhos em frasco. De resto tinha feijões brancos em lata e feijões pretos em lata. Espantado pela hesitação do meu pai, perguntei:
"Não há em lata levamos em frasco, certo?"
Ele olhou para mim lentamente e disse:
"A mãe pôs aqui que é em lata..."
"Mas ó pai, qual é a palavra mais importante: é lata ou vermelho?"
"Não sei..."
Qualquer semelhança entre esta conversa e uma conversa de dois miudos de cinco anos é pura coincidência. É incrível a pouquíssima capacidade de tomar decisões que dois homens conseguem ter quando paira sobre eles a sombra de uma mulher.
Prevendo o impasse sugeri ao meu pai que ligasse à minha mãe. A resposta não tardou e não era nenhuma das que tínhamos pensado: deveríamos levar duas latas de feijão branco e dois frascos de feijão vermelho. As duas latas de feijão preto que o meu pai tinha posto no carro antes do telefonema voltaram para a prateleira num ápice.
Voltámos para casa meia hora depois. O meu pai com um ar meio triunfante meio amedrontado.
E eu a pensar: "Daqui a cinco meses estou casado."
esgalhei-me :D... quase que vos consegui ver e apostava que foi no intermarché.
8:56 da tarde, fevereiro 17, 2009
eu também :D
mais: consigo imaginar o pai a tentar decidir e a querer ficar de consciência tranquila: duas coisas completamente impossíveis de coexistirem :D
6:14 da tarde, março 15, 2009
não consegui deixar de rir do princípio até ao fim... bem, quer dizer, quase até ao fim...
ass.: a futura sombra ;p
ps.: se fosse ficção teria tanta piada...
10:44 da tarde, abril 23, 2009